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Por: Redação
Publicado em 14 de setembro de 2018

Foto: O2Corre
Zersenay Tadese, cinco vezes campeão mundial e detentor do recorde mundial da prova, com 58min23s cravados em 2010 nas ruas de Lisboa. Tem ainda uma base e início nas competições mundiais na duríssima forja de campeões chamada cross country, em que também se tornaria o melhor do mundo.
Já nos 10.000 metros, tem uma medalha de bronze da Olimpíada de Atenas 2004, uma de prata do Mundial de 2009 e batalhas históricas contra um mito da prova, o etíope Kenenisa Bekele.
Por toda essa formação e carreira de atleta completo, o eritreu Tadese era aposta certa para se destacar na maratona, o caminho natural de muitas feras dos 10.000 metros e da meia-maratona. Mas ele jamais brilhou ou venceu quando migrou para os 42.195 metros e tem como melhor marca um tempo distante dos mais competitivos maratonistas do planeta: 2h10min41s.
A história de Tadese começa na pacata aldeia de Adi Bana, onde nasce em 8 de fevereiro de 1982 numa região que é hoje a Eritreia, no nordeste da África, quando esse país ainda era parte da Etiópia. Sua terra só se tornaria independente em 1993, após uma sangrenta guerra civil.
O menino cresce no pacato interior. Não sofre com a violência da guerra, nem depois, com uma das ditaduras mais cruéis da África, que dura até hoje sob o comando do presidente e general eritreu Issaias Afeworki.
Como tantas crianças pobres africanas, cresce descalço e forma sua base nas corridas por pura necessidade: correndo para a escola, 11 km distante, e voltando caminhando.
Não é correndo, porém, que Zersenay Tadese começa no esporte. Herança do passado colonial da ocupação italiana, o ciclismo era o esporte mais popular da região e o garoto torna-se um ciclista promissor de provas de 30 a 50 km. No início da juventude, pensa em virar profissional na Europa, mas as distâncias das competições nas terras sagradas dos pedais são muito maiores do que ele está acostumado.
Motivado pelo professor de um clube local, decide experimentar o atletismo. Logo sua velocidade e ritmo forte e constante começam a se destacar nas planícies a mais de 2.000 metros de seu país.
Em 2005 ele é vice-campeão do Mundial de Cross Country, e no ano seguinte inicia seu impressionante domínio nas meias-maratonas: vence os mundiais de 2006 em Debrecen, Hungria; 2007 (Udine, Itália), 2008 (Rio de Janeiro), 2009 (Birmingham, Grã-Bretanha); é vice em 2010, na China, e volta a vencer em 2012, em Kavarna, Bulgária.
Além das provas de cross e nas ruas, o herói eritreu torna-se um notável corredor dos 10.000 metros. Porém, esbarra sempre em Bekele, um rival praticamente imbatível, o mesmo que também dominava o mundial de cross country com um incrível pentacampeonato seguido, tanto nos 12 como nos 4 km (2002/2003/2004/2005/2006).
Em março de 2007, a medalha olímpica de 2004 é a mais amada por Tadese, mas o que acontece no calor infernal e úmido de Mombasa, Quênia, no Mundial de Cross disputado em um campo de golfe às margens do Oceano Índico, dá nova dimensão à sua carreira. O eritreu quebra o reinado de Bekele, que abandona a prova, exausto, e vence o Mundial de Cross.
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Cinco meses depois, os dois se enfrentam de novo, agora em Osaka, Japão, mas no Mundial de Atletismo em pista. A final dos 10.000 metros assiste a um alucinado voo solo do baixinho eritreu, que imprime e comanda a prova com um ritmo forte que vai machucando os rivais.
Lidera até quase o km 9, mas aí é atropelado por Sileshi Sihine, pelo queniano Martin Mathati e, claro, por Bekele, que conquista seu terceiro título mundial seguido. Tadese fica com o quarto lugar.
O auge do duelo acontece no Mundial de Berlim, 2009. Tadese imprime mais uma vez uma cadência infernal, lidera quase toda a final. Na última volta, vê Bekele explodir em uma disparada espetacular para o ouro e o quarto mundial seguido, igualando o lendário Halle Gebrselassie.
Zersenay Tadese fica com a prata e esse vice-campeonato faz com que o eritreu seja apenas o segundo corredor da história, depois de Paul Tergat, a conquistar no mesmo ano medalhas em mundiais disputados em diferentes pisos: além da pista de Berlim, ele ficou com o bronze no Mundial de Cross e o ouro no Mundial de Meia-maratona, tudo em 2009.
Nos 10.000 metros do Mundial de Atletismo seguinte, em Daegu (2011), o eritreu fica em quarto lugar. Dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, traz um quinto lugar, é o sexto em Londres 2012 e oitavo no Rio 2016.