No dia 16 de setembro, fiz minha quarta maratona, a de Berlim. Aos trancos e barrancos. Nesta série de cinco textos, te explico o que deu errado – muita coisa – e o que deu certo – muita coisa.
A czarina da Maratona de Berlim
- 20 dias antes da Maratona de Berlin: eis que surge uma dorzinha na parte interna da minha coxa esquerda. Não ligo.
- 18 dias: a dorzinha vira dor, mas passa logo no começo do treino.
- 15 dias: agora, a dor só some a partir do km 7 de cada treino.
- 10 dias: desisto de fazer o treino de 10km no primeiro meio metro de treino.
- 1 dia antes da prova: treino de 6 km em Berlim, que acaba no Estádio Olímpico. Foi lindo. Zero dor.
Aí chegou o dia da prova em si. Aquela para a qual eu tinha treinado por um ano. Só falava dela. E ouvia coisas lindas sobre ela. Fui indo muito bem, ligeira, esqueci da dor.
Até que cheguei no km 25. A dor voltou com tudo, e minha perna esquerda parecia que pesava 250 kg, como se ali houvesse um urso agarrando minha pele com unhas afiadas.
Na hora eu pensei: ou eu paro aqui e agora ou sigo seja lá de que maneira.
Um ano treinando. Tudo pago em 200 parcelas. Muita expectativa. E a curiosidade de passar embaixo do Portão de Brandemburgo como uma czarina do século XVI. Adivinha. Optei em ser a czarina.
Meu povo, há algo em todo maratonista que não é possível explicar. Uma luta interna entre o “eu quero parar” e o “vamos lá” que quem não corre não entende.
Enfim. Eu mirei em uma pessoa qualquer na plateia que assistia a prova e pensei: “Guarda essa dor com você, que pego ela no final”. A dor vinha, eu caminhava. A dor ia, eu corria. O km 30, o mais emblemático de todos dos 42, chegou como um alívio. Só faltavam 12, mais os 195 metros.
De dor em dor, de conta em conta, terminei a maratona. Tenho um profundo respeito por provas longas. Jamais colocaria a culpa da minha dor na maratona de Berlim, uma das mais lindas, divertidas e menos monótonas que eu já fiz.
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Outro dia estava pensando em não fazer ela de novo. Não que ela não mereça. Mas minha história com Berlim é essa. E, sinceramente, não sei se acredito em refazer histórias. Elas são como foram.
Depois da maratona ainda fui para Paris e cruzei a cidade todas as vezes que me deu na telha, ainda com dor, maldizendo cada escadaria do metrô.
Cheguei em São Paulo. Diagnóstico: fratura de 63 milímetros no fêmur esquerdo. Três semanas andando com andador, depois virá uma andando com muleta e uns 3 meses para voltar a correr.
Remédio? Esperar, meu ponto fraco.
Mas aqui começam as aventuras de um fêmur fraturado.