Diferente das meias utilizadas como uniforme pelos jogadores de futebol, as meias de compressão servem - como o próprio nome diz - para gerar uma pressão nas pernas. Essa compressão tem como objetivo melhorar a força e a resistência muscular local, reduzindo o risco de lesões e, possivelmente, melhorando a performance.
“A ciência é contraditória por conta do método e das pessoas utilizadas nas pesquisas, mas pelo o que sabemos quanto à recuperação muscular, elas funcionam sim”, afirma o fisiologista do exercício Gerson Leite, do Instituto Body4life.
Como funcionam as meias de compressão?
Nosso coração é uma bomba cardíaca que leva sangue para o corpo todo transportando oxigênio e nutrientes. Durante o exercício, o retorno do sangue para o coração precisa ser acelerado, já que é por ele que também ocorre o transporte de gás carbônico e toxinas — e uma circulação lenta resulta em maior estresse fisiológico. É aí que entram as meias de compressão.
“Esta é a função da meia: apertar a musculatura e fazer com que ela trabalhe de forma mais eficiente para retornar esse sangue para o coração”, continua o especialista. As fibras elásticas estão dispostas longitudinal e transversalmente (de forma que a compressão seja homogênea) e funcionam como um tipo de contenção, evitando que o músculo oscile ou vibre demais. Ou seja, um músculo que oscila menos é um músculo mais eficiente para enviar o sangue de volta ao coração e, consequentemente, te fazer cansar menos.
Vale a pena?
Um estudo publicado no
Journal Sports Medicine mostra resultados animadores para quem usa as meias de compressão: os corredores tiveram uma percepção de esforço e gasto energético menores.
Segundo Gerson, uma das principais razões para que isso ocorra é que essas meias diminuem o acúmulo de lactato durante o exercício e também o processo de lesão muscular. Com elas, há menor concentração de creatina quinase (CK) no sangue e diminuição do processo inflamatório pós-exercício — e a CK elevada não é um bom indício.
“Quando isso acontece, é um indicador de que seu músculo está lesionado, fatigado”, fala o especialista. “Como mostrou o estudo, o uso das meias de compressão ajuda a diminuir a CK, ou seja, você estressa menos o músculo e se recupera mais rápido.”
Se são boas para a recuperação, quando o assunto é performance as meias parecem não ter efeitos benéficos. Um estudo publicado no
Respiratory Physiology & Neurobiology analisou alguns indicadores para avaliar a sua eficácia no desempenho. Os resultados não mostraram uma melhora na performance quando compararam atletas com e sem as meias. Mas benefícios fisiológicos foram notados: o tempo para entrar em exaustão aumentou e a concentração de lactato foi menor, o que melhorou a respiração.
Quem pode usar?
Teoricamente, todo mundo. Porém, vale dizer que a meia de compressão não é primordial. “Você não precisa das meias, elas não são um item essencial para começar a correr. Elas ajudam, sim. Mas, antes de mais nada, invista no treinamento do seu corpo para qualquer distância que escolher correr. A preparação física é mais importante. Não adianta ultrapassar seus limites e esperar que meias de compressão salvem seu esforço excessivo”, diz Gerson.
Na hora de comprar, meça sua panturrilha para saber o tamanho correto. Cada meia possui um grau de compressão — e isso mexe com a velocidade de retorno do sangue para o coração. Além disso, vale dizer que as meias podem ser usadas tanto durante a corrida quanto depois, visando uma melhor recuperação. Na corrida, o ideal é que seu grau de compressão seja maior (algumas marcas indicam o nível de pressão de cada produto). Já em períodos longe da atividade, o grau de compressão pode ser menor.
Se você já usa as meias de compressão, tente variar um pouco: realize treinos com e sem elas para que o corpo não se acostume e o efeito delas seja diminuído. Dê preferência para usá-las em dias mais frios ou quando você sente que seu corpo está um pouco mais cansado, ou indisposto.
Benefícios das meias durante e depois do exercício segundo os estudos mais recentes
- Performance: igual
- Consumo de oxigênio: igual
- Percepção subjetiva de esforço: melhor
- Concentração de lactato: menor
- Lesão muscular: menor
- Inflamação no músculo: menor
*Fontes: Marcel Sera, fisioterapeuta (CREFITO 121849/SP) graduado pela USP, e Gerson Leite (CRM 76551 SP), fisiologista do Instituto Body4life.